terça-feira, 11 de setembro de 2012

Vício em Pessoas

Eu como todo bom neurótico ansioso já experimentei alguns vícios. Ok, tem o diferencial que eu sempre odiei cigarro e bebidas alcoólicas, mas ainda assim vou especialista em vícios habituais e alimentares. Dentre eles já tivemos salgadinho, bolacha recheada, limão com açúcar, cuidar para que número de passos que uso pra andar de um lugar a outro seja sempre um número par e outros que nem lembro ou não sei descrever de tão estranhos. Atualmente vivo com vício de beber coca-cola, organizar coisas tortas, ordenar as coisas logicamente, não pisar em fendas na rua, etc. Enfim, já tenho uma certa experiência. Apesar de toda essa experiência e esses vícios chatos que incomodam a nossa vida, posso garantir que não há vício pior que o vício em pessoas. Vou explicar.

Quando eu era pequeno eu não era muito sociável. Ficava em casa assistindo televisão, jogando computador, eventualmente criando coisas obras de arte com as coisas que encontrava soltas dentro de casa. Não costumava sair com amigos nem conversar muito na escola. Eu era daqueles que ficava na sala durante o recreio só esperando a aula voltar. Não que eu seja super estudioso porque eu nunca fui, mas eu queria que tudo acabasse logo pr'eu poder voltar pra casa. Lembro que eu era muito feliz naquela época, mesmo sem ter contato com pessoas.

O tempo passou, eu entrei nos grupos de jovens da igreja e fui começando a criar novas amizades. Ótimo, eu tinha amigos e podia eventualmente sair à noite pra ir na casa de algum deles pra uma noite de diversão saudável. Acontece que com o tempo estas diversões saudáveis vão se tornando um vício chato e difícil de se desfazer - assim como qualquer outro vício. Nos dias de hoje com a popularização do Facebook e do Twitter, tem sido cada vez mais difícil se desapegar destas ferramentas. Eu fui resistente ao Facebook e era taxado de alienado sem vida social e hoje eu reconheço que ele é uma importante ferramenta de comunicação. Por conta dessa alta comunicatividade, me obrigo a participar dele, mas existem estes efeitos colaterais.

Conversando com um grande amigo sobre o assunto, ele trouxe o seguinte argumento: "Quando somos menores nós ficamos felizes com poucas coisas, mas quando nos tornamos adultos queremos algo a mais e esse algo a mais é encontrado em outras pessoas". Eu concordo. Na verdade o meu cérebro concorda, mas meu coração tem uma grande dificuldade neste ponto, porque ele não sabe ponderar as coisas e viver de uma maneira saudável com essa ideia. Eu sempre fui voltado pra área das exatas e nunca quis trabalhar com pessoas, mas nestes últimos meses não tenho conseguido viver sem a presença dos amigos e tenho dificuldades em lidar com tweets sem resposta e posts não curtidos. Me transformo numa pessoa super engraçada pra que os outros riam do que eu escrevo, posto coisas excessivas e desnecessárias sobre a minha rotina no twitter pra saber se alguém está prestando atenção em mim e no que eu estou fazendo, quero sempre saber a opinião de todos antes de tomar decisões importantes, estou preocupado com o que meus amigos vão pensar de mim e às vezes mudo minhas atitudes para não gerar conflitos. Ok, talvez outras pessoas os façam por outros motivos, estou apenas explicitando os meus.

Parando hoje pra pensar sobre essas minhas atitudes, percebo que sou um refém das pessoas, assim como um fumante é refém do cigarro. Será que sou o único? Ok, sou bem imperfeito e também sou a pessoa mais insegura que conheço, mas também vejo os sintomas deste mal em outras pessoas, até nas que são minhas fiéis sequestradoras. Será essa mais uma busca de identidade? Será que ficarei à mercê dos meus amigos pelo resto da vida? O que mais me preocupa é que, com o tempo, este vício em pessoas se desenvolve e, como toda coisa viva, se procria. Aí nasce a paixão para acabar com toda a nossa estrutura. Mas chegaremos lá num futuro, pois este assunto está guardado pros próximos capítulos #FicaADica.

---
Ficha Técnica:

Nome do caso: Vício em pessoas.
Objetivo: Reabilitação total.
Plano de ação: Usar Facebook exclusivamente para comunicação - tipo e-mail; não twitar nem postar coisas pessoais ou questionamentos em lugar nenhum; procurar não falar de si mesmo quando junto de outros amigos; não marcar encontros com amigos durante a semana.
Período da coleta de dados: Dois dias (18/09 e 19/09)
Relato de experiência: Nas primeiras horas foi mais difícil, mas já no segundo dia foi mais fácil e eu pouco me importei com isso. Na verdade, eu não senti muita diferença entre estar e não estar nas mídias sociais, a única coisa é que eu não tava me preocupando com elas, então eu procurava outras coisas para fazer, tipo estudar. Acho que foi uma boa experiência, que não foi traumatizante. Contudo, sei que essas ferramentas são importantes para a comunicação e as relações interpessoais.
Análise: Vê-se que as mídias sociais tem seu lado bom e seu lado ruim e proposta é inverter a história e aproveitar a ausência do lado ruim enquanto sofre a ausência do lado bom. Nota-se que deve haver uma fator comum entre as coisas: ou criar uma rotina de "dias com e sem facebook", ou se propor a diminuir o tempo em cada um.
Conclusão indutiva: O objetivo, reabilitação total, é possível. Deve-se criar uma rotina semanal com dias com e sem acesso às redes sociais, ou então fazer uma proposta para si mesmo de diminuir o tempo em cada um. No fim das contas, é vantagem para você.

Atualizado em 12/09/2012, 18/09/2012, 20/09/2012

---

Ainda estou desenvolvendo metodologias de tratamento dos sintomas, assim que eu tiver uma teoria pronta eu repasso para a comunidade em geral. Por enquanto o que me resta é viver este momento, criar minha própria reabilitação, segurar na mão de Deus pra passar pela abstinência e analisar os resultados.

Até a próxima!

Nenhum comentário:

Postar um comentário